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Este blogue é um espaço onde tento conjugar a divulgação do meu trabalho de pintura, através das publicações abertas a comentários, e a publicação de outras matérias na coluna lateral e nesta zona, ao alto da coluna principal.


Os assunto e conteúdos que aqui coloco, em paralelo com a pintura que faço, relacionam-se com as minhas opiniões e opções no exercício do acto de viver. Isso, como tudo, resulta de um compromisso entre livre-arbítrio e determinismo, de racionalismo e sensibilidade, de consciência e intuição, de ponderação e impulso.


Não será possível resumir neste espaço o meu pensamento acerca do mundo actual e do que é indispensável alterar para viabilizar um futuro, em que a nossa espécie assegure a sobrevivência da vida como a conhecemos, de uma forma que respeite a sua organização estrutural. Penso que em qualquer de nós tudo existe. A capacidade para fazer num sentido e no seu oposto. Cada um tem os seus conceitos de bem e de mal, se bem que há tendências mais universais. Para mim basta-me considerar por bem o que estabiliza, harmoniza, promove prazer e bem-estar, respeita e aceita e se constrói permanentemente na consciência da pertença a uma unidade global. A consciência do mal estará no extremo oposto. É uma forma simplista e não mais que um recurso para estabelecermos regras de conduta, para assumirmos a responsabilidade que os nossos recursos desmedidos para interferir no meio em que vivemos, nos confere.


A falta de um sistema político adequado para a gestão das sociedades que promova um papel social, de cada um, devidamente equilibrado no deve e haver, estabelecido no respeito sagrado pela dignidade de cada pessoa, é um sintoma de um mal que se avalia pelo exame da nossa História Universal. Se avaliarmos os registos da história política, das artes e do pensamento, verificamos que há um padrão de comportamento humano que é inerente à sua condição e que não tem mudado ao longo dos milénios. Depois vemos que tudo se repete, em ciclos. E verificamos que a velocidade das transformações evolui exponencialmente, porque tudo é um pulsar. A explosões sucedem-se retracções.


Neste momento não sabemos em que ponto estamos, mas sabemos que se não alterarmos o nosso comportamento, estaremos a construir uma destruição num apocalipse de dor e sofrimento em que a nossa arrogante inteligência fará a afirmação de ser a mais negra estupidez do Universo conhecido.




ASSINE PELA ABOLIÇÃO GLOBAL DA PENA DE MORTE

BASTA A POSSIBILIDADE DE INOCENTES SEREM CONDENADOS À MORTE PARA A ABOLIÇÃO SER IMPERATIVA


No passado dia 10 de Outubro foi o Dia Mundial pela Abolição da Pena de Morte. Duas semanas antes, a 25 de Setembro, o Brasil tinha-se tornado o 72º país a abolir a Pena de Morte do seu sistema penal, sem possibilidade de retrocesso.


Este é, ainda hoje, um tema polémico. Confrontados com a violência que espreita a esquina do quotidiano da pessoa mais serena e pacífica, e com a consciência que a divulgação mediática que existe dessa mesma violência muitos são os que apesar da sua boa personalidade cívica e humana, hesitam ou, nem por isso, antes apoiam a pena de morte como solução para conter e castigar os crimes que atingem inocentes.


Pessoalmente, expresso aqui uma opinião que assume uma série de implicações, pelo que não quero fazê-lo, sem fundamentar a minha posição e assumir a consciência desses fundamentos. Estou consciente do privilégio que representa nunca ter sido alvo de episódios de relevante violência. Consigo, talvez por defeito, mas quanto baste para entender o estado de espírito de quem sofreu sérias circunstâncias
de ofensas pesadas à sua integridade física, atentados ou até assassínios dos que lhe são próximos.Há casos e circunstâncias em que os ofendidos poderão encontrar argumentações que sustentem uma execução num caso específico. Há até casos de assassinos que querem morrer. Há muitos que até se suicidam no corredor da morte, seja pela incapacidade de lidar com a culpa ou com a desumanidade da tortura da espera. No entanto, há uma coisa de que todos temos de estar conscientes. Num determinado sistema penal há ou não há pena de morte. E temos de estar conscientes de uma outra coisa. Nenhuma lei que exista em qualquer país, para qualquer efeito, tem garantia de ser sempre exemplarmente aplicada. Os casos são julgados por pessoas e por elas são aplicadas as penas. As pessoas detêm poderes e têm interesses que, por vezes são difíceis de identificar até para os próprios porque estão nas esferas obscuras das ideologias e das afectações de carácter e que são determinantes nas decisões. Pesa, para mais, que a maioria dos locais onde a pena de morte ainda é aplicada, e onde é necessário que seja abolida, são aqueles onde os atropelos à isenta aplicação da lei são mais fáceis.


Não é defensável que estejamos vulneráveis à violência social. Sabemos que há seres humanos cuja monstruosidade de comportamento alimenta as vendas e audiências dos meios de comunicação com a evidência de que não terão a mínima viabilidade de recuperação. No entanto, defendo que as sociedades terão de encontrar métodos de prevenção e de regulação destes fenómenos que estão completamente associados à própria natureza humana e à forma como se gerem políticamente as sociedades. Acredito que um eficaz combate à miséria existencial e um sistema de educação humano e adequado resolverá uma grande parte do problema. A aplicação rigorosa dos direitos humanos, já reconhecidos, outra parte. Só que o que poderia ser fácil, não o é, e esse estado, demorará a ser atingido, se algum dia o for à escala global. Até lá, os crimes e as agressões continuarão. E a necessidade de lidar com eles, sem passar pela eliminação física do criminoso. Porque basta a possibilidade, em aberto, de um inocente condenado para inviabilizar que se possa manter uma lei que o permita. Nos Estados Unidos, onde ainda existe, como sabem, pena de morte nalguns estados, já se tem descoberto inocência, e conduzido à libertação de presos, numa espera que chega a durar 20 anos.


Perante estes factos só é possível defender a abolição da pena de morte, sem excepção do local geográfico, da natureza dos crimes, das características do criminoso ou do método de execução utilizado. É um princípio e um conceito a eliminar para atingir um mundo melhor.


Como nota final, registo o facto agradável de Portugal ter sido a vanguarda da abolição da Pena de Morte. Foi introduzida pela Reforma Penal de 1867, tornando-nos no primeiro país a aprovar uma lei desta natureza. Notável, para um país, em que em 1476, os registos reais dão conta daquilo a que chamam "uma lei mais humana" referente à decisão de D.Afonso V de proferir uma sentença em que só o marido podia matar a mulher culpada de crime de fugir ao marido, pecando-lhe na lei do casamento.


ATENÇÃO - ESTE VÍDEO MOSTRA A CRUELDADE HUMANA PARA COM OS ANIMAIS

Nos dias de hoje, só a ganância do lucro, o desprezo pelo sofrimento alheio e a crueldade para com as outras formas de vida, explicam as experiências com animais em laboratório, para fins médicos, cosméticos ou outros. No total alheamento pela dignidade da vida e pelo seu carácter sagrado, animais dotados de consciência e sensibilidade elevadas são torturados com objectivos militares e científicos, por vezes durante anos a fio, passando existências inclassificáveis. A engenharia genética que tem sido, tantas vezes, usada em más direcções, providencia afinal os meios que permitem avançar a medicina sem o uso deste tipo de práticas, mas elas continuam a ser usadas.
Impõe-se que todos os que temos consciência do mal no exercício destas práticas cruéis e que com elas não queremos pactuar, nos informemos, de quais as empresas que comercializam produtos ou medicamentos resultantes destas experiências. Felizmente o mercado actual dá alternativas para se evitar um consumo que suporte essas actividades.

NÃO À SENTENÇA DE MORTE - Não deixe o seu cão velho na rua, nas noites frias!

Chained Dogs

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Se tiver dificuldades com a língua inglesa faça uso da ferramenta de tradução do Google. Não é perfeita, mas permite-lhe ter uma ideia muito aproximada dos conteúdos.

MOSTRA VIRTUAL DE PINTURA

sexta-feira, 31 de julho de 2009

AMOR À POESIA

Neste tempo entre os óleos de tamanho avantajado, experimentei, como já disse antes, alguns exercícios de pintura a pastel, sobre papel. Gosto do aspecto táctil de que o pastel se reveste. As mãos seguram directamente na barra do pastel e o contacto com o pigmento é íntimo. As mesmas mãos trabalham a cor sobre o papel, espalhando-a, moldando-a.




Há já muito tempo que projectava fazer o retrato da minha companheira de vida e aventuras, mas por vezes o que parece mais fácil, não o é. Um retrato tem de ter alma, a alma do retratado. Perto dela, o rigor físico é de pouca importância. A minha Maria Besuga é uma mulher com sonho e poesia na alma. Aqui faço o abuso de expor, neste olhar, aquilo que não é desvendado no imediato dos primeiros contactos, e às vezes de muitos outros após esses, com ela.




Sinto alguma insegurança em relação ao meu sucesso na intenção de retratar com a sensibilidade merecida. Por isso me socorro, de uma quadra e alguns excertos de poemas, da autoria da retratada.




São do seu primeiro livro, datado de 1999, de que gosto especialmente. Tem uma alma singela que dá mais força à intensidade que nele vive.



Amor à Poesia 2 web.jpg


"o sonho é uma maldade


que nos entontece a mente


inda mais quando sonhamos


com o que a nossa alma sente"






"(...)


alma


que alma tenho eu


ou temos nós


é na alma que buscamos


a coragem para soltar a voz


(...)"






"eu faço versos


como quem despeja a mágoa


como quem enxota a dor


(...)


eu faço versos


como quem faz amor!..."



Amor à Poesia 1 web.jpg




"(...)


sentir-me no amor


como num enredo


donde não posso sair


falando tudo sem mentir


andando à roda sem cair


e onde viva a sonhar


podendo sempre acordar


sempre sem me machucar


e amar


amar até ao fim


dar tudo o que tenho de mim


daria tudo


tudo


para me sentir assim."




(in "Nus meus sentimentos", editorial Minerva, 1999)





domingo, 26 de julho de 2009

PIETÀ

Pietá detalhe 2web.jpg


Pietá (detalhe)


Pastel sobre papel - 40x60cm (imagem total) - 2009




UMA PINTURA PARA DENTRO DE OUTRA PINTURA


(O presente para dentro do futuro, agora...)




Gosto quando uma expressão artística se usa a si própria como objecto criativo, por via de reflexão, crítica ou simples(?) contemplação. Gosto de livros sobre a escrita, de filmes acerca de outros filmes ou sobre cinema e de pinturas que incorporam outra(s) pintura(s). "Las meninas", de Diego Velazquéz, é um exemplo sublime de uma obra absoluta e fascinante que coloca outras pinturas em destaque e, simultaneamente, envoltas num mágico véu de mistério. Nas penumbras do salão palaciano.




Desta vez calhou-me a mim, pela primeira vez, nos caminhos que à mente se abrem e se descobrem quando em processo criativo, fazer sentido que num quadro meu isso sucedesse. Mais do que apenas fazer sentido, depois de visualizado, tornou-se numa ordem imperiosa, à qual não havia volta a dar. A vontade humana sai sempre derrotada em qualquer confronto com os ditames da imaginação e da sua sede cega e compulsiva de concretização.




Portanto, o quadro a fazer, o futuro, é o projecto que estou a desenvolver agora e que, se o conseguir fazer, será uma pintura a óleo, de grandes dimensões, maior do que as que já aqui viram, e de outras que irei colocar mais tarde. Sobre essa pintura em preparação, como certamente entenderão, não revelarei temática nem qualquer outro detalhe relevante até que esteja terminada. A única ponta do véu que levanto tem a ver com o conteúdo desta publicação.




Como o conteúdo, sendo diferente na abordagem conceptual, compartilha com os meus outros trabalhos recentes, um método de composição e de expressão formal, tem algumas exigências. Desta vez devido às circunstâncias específicas de que se rodeia, vejo-me na necessidade de criar, no estúdio, um cenário, a partir do qual pintarei. Nesse cenário será incorporado um quadro de uma "Pietá", que devido ao seu conteúdo simbólico, cumpre uma função importante no conjunto.




Conjugaram-se as dificuldades de obter uma boa reprodução e da necessidade de ter elementos adicionais às pinturas comuns do tema com o facto de eu estar a aproveitar o "interregno" de projectos mais exigentes, fazendo algumas experiências com pastéis. Assim, decidi eu próprio fazer a "Pietá" para figurar no próximo quadro a óleo. Portanto irei pintar o mesmo quadro duas vezes. É uma sensação estranha.




Disse no princípio deste texto, que gosto de arte que se expressa acerca da sua essência. Há casos em que imagens figuram dentro de imagens, até ao infinito, como se fossem "Matrioskas" transparentes em que o ínfimo só é limitado pelos limites de quem cria e de quem vê e/ou imagina. É um conceito interessante, se bem usado. Este facto de estar a pintar para algo que vou fazer, sendo diferente, provoca-me, curiosamente, uma sensação paralela, mas quase a tocar na que acabo de referir.




Decidi basear esta "Pietá" (a haver outra, mais tarde, será bem diferente) numa obra renascentista sobre o tema, na qual incorporaria os elementos que imaginei. Dessa forma, aproveitei para fazer uma homenagem a um pintor que admiro. Como disse este assunto fez-me pensar em Velázquez e talvez por isso escolhi um outro espanhol, um pouco anterior (morreu 13 anos antes de Velázquez nascer) por cujo trabalho tenho grande apreço. Falo de Luis de Morales. Este pintor de temática religiosa, repetiu a pintura de "Pietás", deixando-nos diversas abordagens próximas, em planos diversos, enquadramentos e aproximações ao tema variados, sendo por isso ele próprio um mestre da repetição. A escolha ideal para uma pintura a repetir.




Pietá detalhe 1web.jpg




Pietá detalhe 3web.jpg



Pietá totalWeb.jpg




Para fechar esta publicação não resisto a deixar aqui um poema, que nos dias em que fiz esta pintura me vinha à mente recorrentemente. É uma oportunidade de referir aqui um poeta de excepção e poesia grande.




"stabat mater




sim, a verdade é esta, temos todos as nossas


razões, e às vezes temos mesmo razão, e morre


muita gente por elas, e nós vamos agindo e dizendo


de um lado ou do outro, e entretanto


os calvários proliferam como brinquedos obscenos




em que uma mulher segura o filho


morto nos seus braços, se


morrem os meninos de sua mãe, se morrem como calha


nos braços seja de quem for ou de ninguém, eles ainda


podem morrer nos de quem os trouxe no ventre.




Na escuridão que lhes invade o sangue


nem sentem o lugar em que se encontram,


nem, enrolados no arame farpado da agonia,


têm já memória de quando eram pequenos


e uma mulher sorria para eles e os encostava ao peito.






É quando cada mãe é uma noite com todo o peso do mundo,


já nem sequer dona das entranhas


e não sabe o que sejam consolação, perdão,


nem prece, nem esperança, o seu regaço


torna-se um soluço sem música, como quem vomita o próprio ser.






stabat mater dolorosa."



Vasco Graça Moura

sábado, 18 de julho de 2009

VIRTUS

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"VIRTUS"


180x120cm - óleo sobre placa sintética - 2008



" virtus" (latim) - virtude, qualidades morais e/ou físicas; força; valor; coragem; mérito .




Na consciência que resulta do conflito experimentado pelo confronto entre os polos opostos, que regulam tudo o que existe, dentro e fora de nós, será natural aceitar que o cálice sagrado de onde se bebe a felicidade, será feito da harmonia resultante do casamento sereno entre os opostos. A vida pulsa, desde sempre, na permanente agitação do conflito dos sexos. Atraídos pela necessidade, em tudo o resto se expressam as diferenças que constituem as qualidades que levam à complementaridade. Mas quem vive a experiência sabe que no momento sagrado em que as consciências e sentidos se unem a felicidade se vislumbra.




A plenitude existencial atinge-se na unidade, na comunhão universal com tudo o que existe e com a aceitação serena da estrutura e acontecimentos desse universo.




A virtude está então numa célula plural em que os opostos coexistem e se bastam, sem conflito. Positivo e negativo, luz e trevas, fogo e água. No ponto em que todas as forças que se expressam no simbolismo dos opostos animais, elementos ou cores, se integram. No espaço e no tempo em que o lobo e o cordeiro bebem no mesmo regato e se fundem num único ser. Anula-se o conflito e surge a harmonia. A morte passa a regeneração e renascimento.




Dentro de um círculo se reúnem todos os segredos e soluções.



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sexta-feira, 10 de julho de 2009

TEMPO DE PASSAGEM


Na publicação anterior coloquei a imagem do painel central do tríptico que é, hoje, objecto deste espaço. Prometi que agora daria a conhecer os outros dois paineis. Fazem-se acompanhar por alguns detalhes de cada um deles, assim como de uma pequena imagem com o tríptico completo, para situar as suas respectivas posições. O trabalho, na sua apresentação actual, emoldurada, tem as dimensões de 122x394 cm, e é pintado a óleo sobre tela.



Total Quadro Nascimento.jpg



Total Quadro Morte.jpg



"Ele morrerá e eu morrerei...



Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.



A certa altura morrerá a tabuleta também , os versos também.



Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,



E a língua em que foram escritos os versos.



Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.



Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente



Continuará fazendo coisas como versos e vivendo debaixo de coisas como tabuletas...."



Álvaro de Campos








Nascimento detalhe 1jpg.jpg





Nascimento detalhe 2jpg.jpg







As estórias realmente interessantes são as que nunca foram escritas, porque não podem ser escritas. Passam-se em lugares que não conhecemos porque não podemos conhecer e em espaços e tempos divorciados dos nossos. Talvez ao lado, em dimensões cruzadas. Mas, eu acredito que as personagens que as habitam nos vêm visitar, porque são filhas do mesmo Pai que nós, que é Pai de tudo o que conhecemos e de tudo o que desconhecemos porque no infinito universo há lugar para tudo. Para tudo o que podemos conceber e para tudo o que está para além dos limites da nossa imaginação. Por isso nos visitam. Mas aqui nascem, vivem e morrem, sem que nos apercebamos. Contemplam-nos. Sorriem quando agarramos numa chávena de café e levantamos o dedo mindinho. Aqui, neste lugar, só os nossos deuses e demónios os podem ver e os acompanham à chegada e à partida, e à volta deles rodopiam, enquanto nos olham. Depois, quando cegamos com o escuro das noites, sopram aos nossos ouvidos os ecos das suas linguagens, sem palavras.







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Pergunta: Há sonhos no seu mundo?






Resposta: De certa forma, toda a vida é como um grande sonho. Eu estou a olhar para si, mas, na realidade não sei nada de si - isto é um sonho, um mundo de sonhos . Aqui não existe uma realidade. Quando uma experiência estrutural não manipula a consciência ( ou o que se lhe queira chamar) a vida é um grande sonho, do ponto de vista experiencial - não deste ponto de vista; mas do seu ponto de vista. Como vê, você confere um sentido de realidade às coisas - não apenas aos objectos, mas também aos sentimentos e experiências - e pensa que elas são reais. Quando não as traduz em termos dos seus conhecimentos acumulados, elas não são nada; na realidade, você não sabe o que são.









Pergunta: Então, o estado de ignorância é como viver num sonho?






Resposta: Para si. Na relação com a realidade que dá às coisas, você chama a isso o estado de desconhecer um sonho. Na verdade eu nem sei se estou vivo ou morto.



U.G. Krishnamurti





Central detalhe 1.jpg











sexta-feira, 3 de julho de 2009

GÓLGOTA


Gólgota (do Lat. Golgotha) substantivo masculino - lugar de suplício; sofrimento atroz; calvário



Origem: Dicionário da Língua Portuguesa - Texto Editores



Calvário (em aramaico Gólgota) é o nome dado à colina que na época de Cristo ficava fora da cidade de Jerusalém, onde Jesus foi crucificado. Calvaria em latim, Κρανιου Τοπος (Kraniou Topos) em grego e Gûlgaltâ em transliteração do aramaico. O termo significa "caveira", referindo-se a uma colina ou platô que contém uma pilha de crânios ou a um acidente geográfico que se assemelha a um crânio.



Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Golgota Jpg.jpg



Gólgota



Óleo sobre tela - 138 x 223 - 2009





Num momento, o lugar da caveira é o espaço do Universo todo, e, para cada ser, o é em dado momento da existência, aquele em que o tempo deixa de passar e ter significado, em que a matéria não tem expressão e o nada é tudo.






O homem é filho da mulher e do homem, de Deus e dos imensos Deuses que fez à sua imagem e às imagens que o mistério lhe concedeu para ver. As mulheres são todas amazonas, filhas de Diana, Afrodite e Psique, trindade conflituosa fecundada pelo pó das estrelas que criaram. Encontraram-se num momento, à vez, sempre na consciência dos outros, como se juntos estivessem, na multidão humana, colmeia una de um único centro, naquele lugar em que as pedras brotavam das mãos do anjo sombrio, que se sentava a Norte, e a música soluçava na garganta da luz branca, deitada a sul, espalhando-se pelas flores de carne.






E todos experimentaram o medo e a perplexidade. E disseram:






-Perdoa-me, porque não sabia o que fazia!






E após um instante eterno:






-Não me abandones!






O balido do cordeiro misturou-se com o sopro de um bater de asas no céu, porque ele e a ave foram opostos, mas nascidos da mesma raiz. Transformaram-se mutuamente e equilibraram-se, em harmonia.






E o círculo fechou-se, rigorosamente, metade luz, metade abismo, irregularmente.





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CONTINUANDO A FALAR SOBRE ARTE







Após a primeira troca de impressões (que pode ser consultada acedendo à página de comentários do "post" anterior) já é possível orientar mais objectivamente a exposição de ideias, aqui.





De uma forma geral, sobressai uma opinião de que a Arte é algo que não sendo definível de modo consensual, deve ser aceite em todas as formas e manifestações, com um grau de tolerância que permita a serena convivência entre todos os artistas e as suas obras.





Asseguro-vos que ninguém estaria mais de acordo com este ponto de vista do que eu, que defendo que a maior parte dos problemas do mundo em que vivemos se devem à nossa falta de respeito pelo próximo e do exercício da tolerância, independentemente das características de cada um e das suas opções, devendo esta prática ser alargada a todas as outras espécies, devendo estas ser respeitadas na sua dignidade, que lhes é conferida pelo facto de compartilharem connosco uma origem universal comum, ancorada no mesmo mistério.





Sucede, que no que respeita à Arte, a falta de tomada de posição, de escolha e discriminação, leva a uma ilusão de convívio de todas as correntes, porque a passividade , apenas permite uma hierarquia perversa de géneros e expressões que serve interesses específicos do mercado. Na verdade, valorizando, todas as propostas que se apresentam, de forma igual, fazendo depender a sua legitimação, apenas de factores como a pretenção do artista e a aceitação pelos diversos agentes, criamos um palco em que os produtos de maior facilidade de produção, ora porque exigem menos talento criativo, mais vulgar técnica de execução, menos investigação e dedicação, proliferarão como erva daninha abafando a colheita. Assim os trabalhos que se inserem dentro de um conceito mais exigente tendem a desaparecer. Pela banalização, caíremos, tarde ou cedo, na desvalorização total da actividade, na sua falta de sentido.





No que respeita à pintura, não penso, evidentemente, que tudo o que foi feito durante o século XX e neste princípio do século XXI, que não seja figurativo tradicional, não deva ser valorizado como arte. Pelo contrário, muitas pessoas com talento, fizeram coisas interessantes. Quando digo que o início do declínio se deu com o impressionismo, não o faço com uma posição de rejeição dirigida, específicamente, aos trabalhos dessa escola. Não culpo Cézanne, Monet ou Renoir. Pelo contrário, nas suas novas abordagens, fizeram trabalhos muito interessantes. A questão teve a ver com o caminho que abriu. Isso foi o resultado da forma como a nova forma de expressão foi tratada pelos filósofos formalistas como Clive Bell, expressionistas como R.G. Collingwood e Benedetto Croce e outros na imposição elitista de um conceito de "Arte". Por exemplo, a filosofia formalista de Bell, para elevar Cézanne ao nível dos maiores clássicos, era de que apenas havia um elemento comum a toda as pinturas merecedoras, que lhe conferiam essa condição excepcional de ser uma obra de arte, a que chamou "a forma significante". Esta "forma significante" é uma conjugação de formas, linhas e cores susceptível de provocar uma emoção estética aos seres sensíveis, dotados da capacidade de a sentir. Ou seja a "forma significante" não era definível, mas passível de ser sentida, intuída, colocando o poder de determinar o valor do que passava a ser a arte de vanguarda, nas mão de uma elite de sensíveis iluminados, que se articulavam com um mercado de galerias, leiloeiras, escolas e museus. Os filósofos expressionistas ainda tentaram definir a qualidade comum do objecto artístico, encontrando um relação entre "Arte" e ofício. No entanto, pelo meio do século passado, já Wittgenstein e outros filósofos, concluíam que tentar definir "Arte" era um erro. A "Arte" não pode ser definida isolando as suas qualidades essenciais. O máximo que se poderia tentar fazer seria encontrar padrões complexos de semelhanças sobrepostas nos objectos de "Arte".





Essa incapacidade de encontrar uma definição para "Arte" chegou aos dias de hoje. Umberto Eco e Warburton assumem esse facto, mas por outro lado reconhecem uma necessidade de se fazer escolhas. De encontrar parâmetros para organizar um mundo caótico em que as correntes de expressão artística são antropófagas e o mundo dos interesses financeiros conferem força às que mais interessam por via de teias complexas, de modo a que ocupem o topo da pirâmide. Haverá assim uma necessidade, até uma responsabilidade de todos os que estão envolvidos no campo das "Artes", de expressar o seu ponto de vista, fundamentado, numa troca de ideias democrática, honesta, transparente e convicta. Ninguém terá o direito de impor uma ideia ou posição, porque já se encontra instalado e/ou muito comodamente "porque sim". Assim na soma das manifestações de ideias, paralelas à apresentação dos trabalhos, resultantes nalguns casos, de reflexões e auto-crítica, que até aqui nunca terá sucedido, poderão todos os observadores interessados, começar a definir algumas ideias. Provavelmente isto nunca sucederá, mas os resultados serão lamentáveis, e serão visíveis no tempo desta geração ou mais tarde. A "Arte" encontra-se em perigo como o ar e os mares deste planeta. Aliás é uma questão global, de origem comum. Ganância e cegueira de gestão.





Do meu ponto de vista é necessária esta clarificação porque, nas circunstâncias presentes, e naquelas para que, cada vez mais, caminhamos, necessitamos de meios de determinar factores importantes, por uma via lógica e objectiva, que não seja um exercício de poder aleatório e ilegítimo apenas dependente de estruturas já existentes, decorrentes de poderes completamente alheios à "Arte". Portanto, é necessário ter princípios de avaliação, claros e transparentes, que permitam atribuir uma hierarquia de valores aos objectos de "Arte". É necessário enquadrar a atenção que lhes damos, de acordo com o seu significado para a humanidade, num sentido que lhes enquadre valor de registo histórico, social, filosófico, etc. Por outro lado é necessário que qualquer olhar que se tenha sobre a "Arte" de hoje, nos permita enquadrar a razão porque aquilo a que, desde sempre, se tem chamado "Arte", é "Arte". Para que não se venha a concluir que só agora temos verdadeira "Arte". E, se assim não é, como se confronta uma com a outra, tão diferentes são, tanto uma põe a outra em causa. Na verdade, necessitamos de linhas orientadoras para decidir com rigor e transparência, em casos complexos, que hoje, são a larga maioria.





Para uma pausa, para olhar um pouco, coloco uma imagem do painel central, de um tríptico que acabei de pintar no princípio deste ano. Na próxima edição colocarei a imagem completa do trabalho assim como os dois painéis que faltam, em destaque.



De seguida farei uma primeira abordagem ao que penso fazer sentido serem considerações acerca dos objectos de arte, que a serem aplicadas, lhes confeririam qualidades de dignidade conceptual, profundidade de conteúdo e permitiriam restaurar alguma aura espiritual, no sentido laico.









Triptico centraljpg.jpg





"Tempo de Passagem"



tríptico em óleo sobre tela



100x350cm (tela) - 122x394cm ( com moldura)



2009









NOTA FINAL:




O facto de pensar que o conceito de "Arte" deveria enquadrar objectos com determinado tipo de características, não significa que não goste de outros objectos, que não estejam nessas condições. Pelo contrário, gosto muito de olhar determinadas pinturas que não considero dentro desse conceito, mas me provocam uma emoção estética. Se adoptasse um princípio formalista tudo estaria bem. Mas essas peças, que até podem ter valor decorativo, para além do prazer de as olhar, só me poderão dar uma base de reflexão, um conteúdo de comunicação, na base da minha imaginação ou na aceitação de qualquer leitura subjectiva que me é dada para aceitar. Quando admiro uma paisagem com elementos que a Natureza, por acaso ou não, reuniu com uma harmonia que, aos meus olhos, resulta numa emoção estética posso comover-me. Isso não torna a paisagem numa obra de "Arte". Costumamos chamar-lhe isso, mas apenas no sentido figurado. Isto pode acontecer com resultados de acidentes químicos. Um qualquer líquido que cai sobre um tecido pode fazer manchas belas, a chuva a cair numa roseira, sei lá....




Para mim, uma obra de "Arte" tem de ser feita pelo ser humano, mas o facto de ser feita por ele não é condição que baste para a elevar a essa condição. A simples reprodução de um objecto da natureza, se não tiver nada acrescentado não basta para elevar o trabalho por mais figurativo e técnicamente perfeito a obra de valor. Tem de se "ler" qualquer coisa de interessante na observação desse objecto da Natureza. Costumo dizer que, para mim, uma obra de "Arte" é tanto mais valiosa, quanto a capacidade que tem de me alterar na sua observação. Guardo de memória, objectos, que mudaram a minha percepção do mundo e da vida: quadros, livros, filmes, músicas.....




De alguma maneira, penso, que a arte mais poderosa, na sua comunicação, que melhores resultados tem sobre o seu apreciador é aquela que é estruturada na recreação da realidade dando-nos uma visão que a sensibilidade específica do artista tem acerca de assuntos intemporais como as emoções e comportamentos extremos do ser humano, entre a beleza e a fealdade, a glória e a tragédia. O medo, os limites do conhecimento humano, ódio, o amor, a guerra, os dramas psicológicos, tratados com sensibilidade técnica, independentemente das opções formais, desde que legíveis e reconhecíveis, são bons temas para a "Arte".






Quanto às "obras" do "expressionismo abstracto", da "arte conceptual" baseada em "ready-made" e outras expressões vanguardistas, limito-me a imaginar a dificuldade que os futuros historiadores da Arte terão em enquadrá-las de uma forma digna para o percurso da expressão humana no seu aspecto mais espiritual e sofisticado. Onde se conseguirá encontrar alguma transcendência?!








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Um olhar sobre a tradição não significa querer voltar ao passado, mas apenas vontade de evoluir sempre na procura do Santo Graal. A perfeição não é atingível, mas procura-se com os olhos nas estrelas do firmamento, com rumo.

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