Não foi, certamente essa a razão, mas poderia ter sido. O senhor macaco-rhesus ou resu que foi o modelo para a fotografia de base a este retrato, poderia ter olhado para os humanos em frente dele, e em face dos comportamentos exibidos, ter tido esta reacção.
Decidi fazer este retrato para abrir um espaço de reflexão sobre o indíviduo, a sua relação connosco e a forma como dele nos aproveitamos e o exploramos. Com todo o carinho e respeito o incluo nesta galeria de pinturas, para o evocar, sem o perturbar, pese o uso do original que para isso serviu. Sem críticas que não sejam equilibradas pelo apreço ao trabalho, pois que se assim não fosse não tinha havido lugar a esta publicação.
Reso surpreendido
Pastel seco sobre papel negro
50x65cm - 2009
Macaco-rhesus ou reso (Macaca mulatta)
Este macaco é um primata que tem o seu habitat nas florestas da China, Afeganistão e Índia.
Com uma altura média de 50/60 cm, pesa à volta de 13 Kg. É omnívoro e tem uma gestação à volta de seis meses de que resulta uma única cria, muito dependente dos cuidados maternos nos primeiros tempos de crescimento. Vivem em grupos sociais de mais ou menos duas dúzias de indivíduos, de ambos os sexos, e têm uma longevidade até 30 anos. Tem a particularidade de ser um excelente nadador.
Detalhe triste: É uma escolha preferencial para estudos e experiências laboratoriais. Por exemplo, o factor Rh do sangue foi demonstrado, pela primeira vez, num macaco destes.
Fiz este retrato, inspirado no conteúdo de um livro da fotógrafa norte-americana Jill Greenberg. Com uma carreira na fotografia de moda encontrou-se, por via da produção de um anúncio, em face de uma macaca para fotografar. Impressionada pela inteligência da modelo e pelas expressões e emoções humanas demonstradas, a fotógrafa decidiu fotografar o animal para além do objectivo do anúncio. Foi o início de um projecto de cinco anos, durante os quais fotografou trinta macacos de diversas espécies.
Página web de Jill Greenberg:
Ver na coluna lateral, no espaço de fotografia, o vídeo dedicado a este trabalho fotográfico e no espaço de leituras a informação relacionada com o livro.
O projecto deu lugar a uma exposição das fotografias numa galeria de Los Angeles. Um dos presentes, realizador de cinema, fez um comentário ao evento, donde extraio a seguinte passagem:
“ fui à exposição porque a foto do convite me atraíu. Tive a surpresa de me cruzar com muitos conhecidos, que não via há muitos anos. Conforme entravam no espaço da exposição, com um copo de vinho tinto na mão, fui invadido por um sentimento de mal-estar e opressão. Essas pessoas pareciam, como sempre, simpáticas e inteligentes, mas lembravam-me um tipo triste e bizarro que eu conhecera: eu próprio. Era o melhor estado de espírito para observar as fotografias de macacos de Jill.
…as fotografias fizeram-se no espelho da minha própria confusão. Há um nível em que somos visivelmente homens, e outro em que a nossa evolução na vida e a nossa caminhada em direcção à morte contrariam todas as nossas tentativas para sermos seres humanos decentes.
Estas fotografias têm um sentido e são desprovidas. São sublimes e ridículas. Revelam exploração dos modelos e respeito. São cómicas e tristes. Agradam-me muito.”
Paul Weitz
“As expressões de Katie (a primeira macaca fotografada, por acaso, para o anúncio) eram muito humanas e a sua inteligência saltava aos olhos. Percebi que tinha encontrado um novo tema, ideal para um estudo sociológico. Depois de começar este trabalho, em Outubro de 2001, logo após os acontecimentos trágicos de 11 de Setembro, descobri em mim uma consciência sociopolítica. A interpretação das atitudes destes animais pode-se aproximar à do comportamento dos seus primos próximos.”
Jill Greenberg
Com as minhas lembranças e evocações das leituras de Desmond Morris, no final da minha adolescência, deixo mais uma homenagem sentida a estes seres que respeito afectuosamente.